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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Por que o método científico não entende a acupuntura? - Parte I: ponto de vista do observador.

Quando há o encontro de dois saberes, e ambos tentam explicar alguma coisa, surgem então os paradoxos, e é à luz dos paradoxos que nossa mente se ilumina para uma nova abordagem de um problema. Mas você só conseguirá uma nova abordagem se estiver navegando pelos vários saberes, pois enquanto estiver enraizado em crenças únicas, dificilmente você consiguirá ver qualquer luz no fim do túnel.

Antes de mais nada é bom que fique claro que o método científico que temos hoje é ainda a melhor ferramenta que dispomos para estudar a natureza e sua interação com as coisas . E é à luz dela que muitos pesquisadores tentam explicar a acupuntura.

A OMS reconhece comprovação científica em várias patologias que podem ser tratadas pela acupuntura, mas mesmo assim, sempre surgem cada vez mais estudos científicos tentando provar se existe eficácia ou não com o uso das agulhas. Infelizmente estes estudos estão cheios de viéses; há tantos interesses querendo provar ou não o uso de agulhas, que não é mais possível acreditar na real arte de se fazer um estudo usando o método científico: ... quem faz a pesquisa é médico ou acupunturista? ... quem patrocínia a pesquisa tem interesse nela? ... quem pesquisa, entende de acupuntura ou entende de pesquisas?

Tudo isso são viéses que impedem uma boa qualidade de qualquer estudo.
Mas um outro ponto que precisamos levar em consideração é sobre a questão da pesquisa estar testando a eficácia da acupuntura numa população, que não vou discutir aqui, ou estar testando o modus operandi desta arte.

Se desconsiderarmos os viéses, é fácil perceber se um tratamento de acupuntura é eficiente ou não através do método científico, pois com uma metodologia apropriada, consegue-se perceber com certa segurança qual seu nível de eficácia em certa parcela da população. Mas mesmo assim, as pesquisas não batem coerentemente com a prática de um consultório e ainda ficamos na dúvida se estas pesquisas são válidas para a acupuntura.

Mas, outros estudos, tentam entender a acupuntura e explicá-la. Muitos pesquisadores devem estar redondamente enganados sobre o que realmente seja acupuntura, ou então precisam rever seus conceitos sobre metodologia científica, pois já vi muitos estudos dizendo que o modo de atuação da acupuntura se baseia na liberação de substâncias químicas no ponto de acupuntura, ou então estimulam um nervo apropriado, ou fazem a estimulação do dermátono correspondente e tantas outras baboseiras, que no fundo, nada têm a ver com a acupuntura. Ora, se você estimula um ponto de acupuntura com uma agulha e libera substância química no cérebro, devido ao estímulo nervoso, não estamos falando de acupuntura, mas sim de eletroestimulação - que é um recurso da fisioterapia, e que se estuda na medicina também. Um pesquisador que conduz um estudo deste tipo para entender a acupuntura, está, na verdade, conduzindo uma pesquisa médica, fisioterapêutica, dermatológica, ou qualquer outra.

Qualquer aluno de acupuntura sabe que a terapêutica envolvida na acupuntura se dá através da regulação da energia (Qi) nos meridianos do corpo; então, qualquer pesquisa séria sobre isso tem que estudar o processo de circulação de energia pelo corpo, e aqui é que reside nosso grande paradigma, porque é impossível para uma mente cartesiana tentar entender o todo de um organismo, pois nossa tendência sempre será "separar e contar".

Um exemplo marcante disso é o fato de um pesquisador precisar estar completamente isolado do seu experimento para poder testar sua hipótese com isenção: o duplo (triplo) cego. Quando a pesquisa envolve medicamentos, automóveis, material químico..., talvez até passe, pois as variáveis envolvidas são tão poucas, que seu controle se torna fácil, mas quando falamos da vida a quantidade de variáveis são infinitas. Hoje, a industria farmacêutica, por exemplo, lança seus novos remédios no mercado após testes exaustivos e experiências controladas em, talvez...2 anos, na ânsia por lucro imediado, mas como você poderá testar todas as respostas de um novo medicamento e em várias gerações com apenas dois anos? ...claro, em letras minúsculas você encontrará na bula: "não usar em pacientes tais e tais e tais" e ..."outras reações não esperadas podem ocorrer", tudo porque os testes em laboratórios estão cheios de viéses. Como acreditar em pesquisas feitas destas forma?

A acupuntura está ressurgindo nos dias atuais, talvez pela necessidade de uma forma mais segura e menos perigosa de tratar as pessoas e vem esbarrando sistematicamente nestes padrões cartesianos de pesquisa científica.

Um dos maiores erros na pesquisa científica dentro da acupuntura, ao meu ver, é o fato dela retirar o observador do experimento, pois assim preconiza a metodologia. E é aqui que é onde encontramos um grande paradigma... na convergência de dois conhecimentos profundos.

Desde a época do auge da civilização grega já se dizia que o átomo era a substância fundamental da matéria; no século XX os avanços tecnológicos nos tornaram possível conhecer os átomos, ainda indivisível; mas muitas pesquisas recentes alteraram este conhecimento, o átomo foi bombardeado e muitas particulas dele foram originadas (hoje conhecemos perto de 200 partículas) e ele deixou de ser indivisível; dentro do átomo descobriu-se que existe uma imensidão de vazio, que as particulas se comportam como matéria e como onda, que uma partícula pode ser convertida em energia; descobriu-se também que quando você bombardeia um elemento, você cria outro elemento (antimatéria) que logo se desfaz, enfim, o conceito de matéria e energia que tínhamos do universo mudou radicalmente, diferente do que se pensava há algumas décadas. Hoje sabemos que quanto mais você divide o átomo, mas vazio você encontra lá dentro, e chega um momento em que não existe mais matéria, mas apenas energia circulando, e também que você não sabe a real posição daquela energia, a menos que você olhe diretamente para ela (interaja), pois a energia parada não representa nada, e só vale alguma coisa em movimento e quando se relaciona com outras energias a sua volta, e tudo isso estará influenciado por quem observa. Veja, para entender melhor estes conceitos será necessário ler um livro de física atual, pois estas poucas informações que coloco aqui não serão suficientes para entender todo o processo.

Vou colocar aqui abaixo uma citação de um livro, que explica melhor o exposto acima:

"A teoria quântica acabara de pôr abaixo os conceitos clássicos de objetos sólidos e de leis da natureza estritamente determinista. No nível subatômico, os objetos materiais sólidos da física clássica dissolvem-se em padrões de probabilidades semelhantes a ondas; esses padrões, em última instância, não representam probabilidades de coisas, mas, probabilidades de interconexões. Uma análise cuidadosa do processo de observação na física atômica tem demonstrado que as partículas subatômicas não possuem significado enquanto entidades isoladas, somente podendo ser compreendidas como interconexões, como a preparação de um experimento e sua posterior medição. A teoria quântica revela, assim, uma unidade básica no universo. Mostra-nos que não podemos decompor o mundo em unidades menores dotadas de existência independente. À medida que penetramos na matéria a natureza não nos mostra quaisquer "blocos básicos de construção" isolados. Ao contrário, surge perante nós como uma complicada teia de relações entre as diversas partes do todo. Essas relações sempre incluem o observador, de maneira essencial. O observador humano constitui o elo final na cadeia de processo de observação, e as propriedades de qualquer objeto atômico só podem ser compreendidas em termos de interação do objeto com o observador. Em outras palavras, o ideal clássico de uma descrição objetiva da natureza perde sua validade. A partição cartesiana entre o eu e o mundo, entre o observador e o observado não pode ser efetuado quando lidamos com a matéria atômica."

O texto acima refere-se a constituição atômica da matéria, naturalmente, mas é preciso entender que o que entendemos por matéria está cada vez mais se tornando energia, e que esta energia é a energia que o acupunturista lida no seu dia-a-dia, e que é a mesma energia que os antigos chineses já explicavam para gente:

Acima existe o Céu, abaixo existe a Terra, no meio estão os Homens. O céu girando sobre a Terra inicia a contagem do tempo e tudo passa a ser cíclico; o Yang inicia o dia, cresce, dininui, dá lugar ao Yin, que cresce e depois diminui também dando inicio novamente ao ciclo do Yang. Este processo circular de energia ocorre no Céu, na Terra e dentro do nosso corpo (no Homem); esta energia percorre ciclicamente nossos meridianos fazendo com que a cada duas horas a energia se torne abundande em um trajeto abrindo e fechando os pontos corretos para regular o fluxo desta mesma energia em seu excesso ou deficiência, percorre também pelo sangue em nossos pulsos, percorre nos rios sobre a terra, no passar das estações, dá origem ao inicio das colheitas nas plantações e está acima de nossas cabeças guiando as estrelas pelo Céu. Está tudo interconectado. E se não interferíssemos em nada, saberiamos sobre as plantações, sobre as marés, sobre as doenças, sobre o dia da nossa morte, como era feito antigamente. Esta é uma visão sumária de um modo taoísta de ver o universo, que é o que explica a acupuntura.

O fato de não mais pensarmos em matéria, mas em energia, e de estarmos todos interligados com nosso meio ambiente, nos trás de novo a questão da metodologia científica; para estudar a acupuntura é preciso entrar dentro da acupuntura, vivenciá-la, pois mais do que um tratamento, ela é uma experiência sensorial, e se um pesquisador ou um acupunturista não vivenciar seu experimento, ele não vai funcionar.

Uma experiencia vivida por Eugen Herrigel nos mostra claramente esta interconexão de tudo:

"Herrigel passou mais de cinco anos com um célebre mestre japonês para aprender sua arte "mística", e nos dá em seu livro um relato pessoal da forma como fez a experiência do Zen através do manejo do arco e da flecha. Ele descreve como a arte de manejar o arco e a flecha foi-lhe apresentada como um ritual religioso "dançando" em movimentos espontâneos e realizados sem esforço e sem propósito. Henrrigel precisou de muitos anos de prática exaustiva, que acabaram por transformar todo o seu ser, para que pudesse aprender como vergar o arco "espiritualmente", fazendo uma espécie de força sem esforço, e como soltar a corda "sem intenção", deixando o disparo "cair das mãos do arqueiro como uma fruta madura". Quando alcançou o apogeu da perfeição, o arco, a flecha, o alvo e o arqueiro fundiram-se num só e Herrigel não disparou, mas "disparam" para ele".

Ao invés de arco, flecha, alvo e arqueiro, imagine: acupunturista, agulha e paciente, todos interconectados na energia do Qi, seria possível isolar uma destas variáveis num estudo científico sério na acupuntura?

"Uma folha de bambu no inverno acumula a neve sobre si até que um determinado momento, a folha se dobra e a neve cai. Não é a folha que derruba a neve, ela deixa cair." A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen - Herrigel, Eugen.

É muito dificil tentar passar conceitos amplos através de palavras, pois vai muito contra o que se prega dentro da filosofia oriental, pois nesta, é preciso vivenciar este conhecimento. É preciso que cada pessoa busque a sua própria explicação através da vivência, por isso o texto acima pode parecer um tanto confuso; mas ele tem as bases do taoismo, da cronoacupuntura, da metodologia científica e da teoria quântica da matéria.

São conceitos muito amplos, que eu também estou aprendendo só agora, para apenas tentar justificar o erro impecável da metodologia científica que tenta explicar a acupuntura isolando o observador do experimento. Em meu ponto de vista, é uma enorme falha no método e haverá tantas outras falhas, enquanto não mudarmos o ponto de vista: não estamos lidando com matéria e sim com energia, não devemos olhar as partes e sim o todo.

George Kieling

Comentários adicionais sobre o texto acima (02 jul 2011)

A questão do ponto de vista do observador é tão importante na pesquisa científica da acupuntura, que senti necessidade de fechar o texto com um esclarecimento adicional. Darei aqui dois exemplos retirados de livros, que deixam bem claro o ponto de vista:

Imagine que você está observando um peixe num aquário e que você está de frente para esse aquário e que este peixe está nadando de encontro a você, indo para frente do aquário. Você verá um peixe com 2 olhos, certo?
Mas agora você, como observador, vai olhar o mesmo peixe, nadando ainda na mesma direção (para a frente do aquário), mas da lateral do aquário. Verá que o peixe tem um forma afunilada diferente, e você vê o peixe que agora lhe parece ter apenas um olho.

A realidade não mudou, o objeto de estudo que é o peixe, também não mudou; a única coisa que mudou foi o ponto de vista de observador e com isso a noção de realidade do observador também mudou.

Segundo exemplo: imagine uma rosquinha (doce de padaria)



com aquela sua forma de anel engrossado; imagine um plano (da matemática descritiva) divindo a rosquinha em duas meias luas. Sob a perspectiva do plano bidimencional que dividiu a rosquinha você pensará que os dois círculos feito pelo corte são independentes entre si; mas se você analisar o espaço tridimencional onde a rosquinha está inserida (em que o plano também está) então os dois circulos fazem parte de uma mesma rosquinha. Quando se observa a rosquinha de ângulos diferente, a realidade - que é a mesma - nos aparece também de forma diferente.

No dia-a-dia do ser humano comum não há necessidade de separar o espaço do tempo: são coisas distintas, mas se observarmos sob uma nova ótica, a ótica das partículas atômicas, então não podemos separar estas duas grandezas, pois Einstein já nos dizia que eles formam um novo conjuto chamado espaço-tempo (uma quarta dimensão): a realidade não mudou, mas nossa perspectiva de ver as coisas é que mudaram.

A acupuntura lida com a energia circulante no corpo, no planeta, no universo; esta energia flui por caminhos que não vemos, mas que apenas deduzimos, cujas pesquisas começam a ganhar vulto nos dias atuais . Estamos entrando numa outra perspectiva de ver e entender o mundo, nosso modo de ver esse novo mundo, é agora olhado sob um outro ângulo. Nós não conseguimos ver a realidade como ela é, pois estamos acostumado a catalogar a realidade segundo uma visão limitada por nossos sentidos e nossos preconceitos, já os orientais antigos, místicos, religiosos, que praticam a acupuntura, que fazem meditação, que têm uma vida mais em sintonia com o seu meio ambiente, conseguem perceber o seu ambiente em um outro nível de realidade, mas não conseguem traduzir essa realidade em palavras, por serem estas muito limitadas para exprimir coisas que nossa mente não entende; daí qualquer estudo científico envolvendo a energia Qi ser muito difícil de ter sua validade certificada nos moldes atuais de pesquisa científica.

Se um terapeuta trata seu paciente direcionando a energia Qi através das agulhas, e alguém de fora observa este tratamento, todos de certa forma estarão influindo na realidade única, mas com pontos de vista diferentes um do outro. Isto tem que ser levado em consideração no experimento, pois se ficarmos isolando paciente, terapeuta e pesquisador, cada uma destas situações será/terá uma visão diferente da mesma realidade. E a acupuntura não será provada cientificamente deste jeito.

Este é o foco deste assunto.

Deixemos o placebo para um outro post.

George Kieling